segunda-feira, 15 de junho de 2009

Glória Perez enfrenta quimioterapia e prepara livro sobre morte da filha

Entrevista:



Vivendo um momento delicado - depois de operar a tireoide para retirar um linfoma -, a autora de Caminho das Índias, Glória Perez, enfrenta a vida com coragem. Em entrevista em seu escritório, no Posto 6, com vista para o mar de Copacabana, ela revela, tranquila, que está usando peruca - tem três - por causa da queda de cabelos, efeito da quimioterapia. "Esse não é o pior momento da minha vida. Posso usar peruca e depois cresce tudo de novo. Nada se compara à perda da Dani. Mas a cabeça da gente é um fator determinante para ajudar na recuperação", diz a novelista. Feliz com o Ibope de Caminho, 45 pontos na última semana, Glória fala sobre os personagens da novela e o livro que escreverá sobre o assassinato da filha, Daniella Perez, em 1992.
Como está o tratamento da quimioterapia?
Estou bem. Não tive efeitos colaterais ou enjoos, só a perda dos cabelos. Vi que o tratamento não é um bicho de sete cabeças. Escrevi um capítulo da novela fazendo a quimio no consultório do Daniel Tabak. Quimioterapia hoje não é uma condenação. No meu caso, o linfoma não é um tumor. Estou fazendo por prevenção. São células que precisam ser controladas para que não escapem e se transformem na doença. Muita gente se curou com quimioterapia.

Você tem medo da morte?
Todos nós vamos viver o último capítulo, nascemos sabendo disso. Esse linfoma não foi o pior susto da minha vida. Perder os cabelos também não, porque posso usar peruca e depois cresce de novo. A perda da Daniella, minha filha, foi milhões de vezes pior. A cabeça é um fator determinante para ajudar na recuperação. Claro que a cabeça não faz tudo. Mas é possível passar por isso se sentindo bem.

Mudou algum hábito com a quimio?
Não posso pegar sol, para não ficar com manchas na pele. Não posso beber e agora fumo cigarro apagado. Segundo o médico, o melhor lugar para ter linfoma é na tireoide. O meu é igual ao da Dilma (Rousseff, ministra). Não tem gânglios, nem doença no organismo. Fiz duas quimios, faltam quatro.

Como está o livro sobre a Daniella?
No meu blog tem um esboço, com detalhes sobre o caso, depoimentos sobre o crime, provas do que ocorreu e o (psiquiatra) Talvane de Moraes explicando que foi um crime premeditado. Mais de 20 mil pessoas já leram. Depois da novela vou começar a escrever. E meu blog já teve 580 mil acessos.

A sinopse de Caminho das Índias sofreu alterações?
Não. Sinopse é uma diretriz que o autor tem para seguir, mas ninguém chega ao fim acompanhando literalmente o que está ali. Não existe esse compromisso. Só a história central não muda.

Yvone é uma vilã diferente das que se vê nas novelas. Como a define?
É uma vilã terrível. Os psicopatas não matam fisicamente, só se estiverem atrapalhando a vida deles. É a psicopata típica. Psicopatas matam os sonhos. É uma personagem que tem em Mentes Perigosas, da Ana Beatriz Barbosa. Não é louca.

Por que falar de loucos e psicopatas?

É importante explicar a diferença. E, nas falas do doutor Castanho (Stênio Garcia) fica claro. O louco se afoga na emoção. O psicopata é todo razão. Os loucos estão felizes com a novela porque tira deles o estigma de, além de loucos, serem psicopatas. Ajuda a observar esses tipos que têm escrito no rosto: "Sou um monstro".

Quais as características da psicopatia da Yvone?
Como todo psicopata, é sedutora, diz o que você quer ouvir. Não perde tempo para obter o que quer. É a amiga envolvente que faz tudo com um objetivo.

Melissa acha que Tarso vai ficar bom e assume os erros do filho. Faria igual?
Com certeza qualquer mãe faria o mesmo. Apesar de todo o supérfluo, Melissa quer livrá-lo de qualquer estigma. Acredita que o filho tem cura. A esquizofrenia pode ser controlada com remédios e a pessoa viver bem, mas não tem cura. O doutor Talvane me escreveu dizendo que o Tarso pode colaborar para que os pais prestem atenção nos filhos. O que mais acontece é a negação da família.

Os cenários também são personagens da trama. Por que escolheu a Índia?
O país sempre me fascinou. Gosto de escrever sobre um assunto que me estimule, uma cultura diferente, até para lembrar que não somos o centro do mundo. Abrem-se várias janelas pela ótica de outra cultura. As pessoas reclamam dos nomes dos personagens, difíceis de guardar.
Comprei um livro de nomes indianos. O árabe é mais familiar. Os indianos soam diferente, têm mais de 10 vogais.

Alguns criticam que só aparece o lado bonito da Índia, a miséria fica de fora...
A grande paisagem da Índia é o ser humano. Como o dalit que conduz a história é classe média, a miséria não aparece. Novela não é documentário. É chamariz para que as pessoas se interessem pela cultura. Mesmo a miséria de lá é vivida de forma diferente. Na Índia você vê mulheres trabalhando na construção civil, carregando pedras, mas de sári. A Índia na novela é uma passagem rápida.

Você se inspirou em história real das castas e dalits?
Não. Pesquisei e aprendi que a pessoa de uma casta identifica outra casta só pelo falar. Brâmane fala mais alto que os outros. Não tem dúvidas, só certezas. Dalits já conquistaram posições, mas ainda sofrem preconceito. Até hoje massacrar dalits é comum. Eles têm 10 mil anos de cultura. O preconceito acaba na lei, mas não na vida.

"Material para o livro que devo à minha filha", diz Gloria em seu blog
"Fiz essa página para que as pessoas tenham acesso à verdade dos fatos que condenaram os assassinos de minha filha Daniella. É insuportável que, depois de sacrificada por dois psicopatas, Dany continue a ser agredida pelas versões fantasiosas que ainda povoam a imaginação de alguns.

Quinze anos depois, os abutres que se alimentam da dor alheia continuam insaciáveis. Já existe até quem se passe por mim, para divulgar falsas entrevistas na nternet, onde apareço dizendo insanidades. É hora de botar ponto final nesse circo!

Guilherne de Pádua declarou no Tribunal do Júri que procurou fazer amizade com Daniella 'por interesse', 'porque ela era filha da autora da novela'. Não conseguindo induzi-la a interferir para aumentar seu papel, e julgando-se prejudicado por nao ter aparecido em dois capítulos, armou a mão da mulher e, juntos, executaram o crime! Escute o que o diz o psicopata (Glória publica áudio do depoimento de Guilherme em seu blog): "Acho que a Daniela foi pra algum lugar que Deus quis e ela está mais legal do que todo mundo aqui em baixo. Porque esse mundo tá uma droga. A vida é uma contagem regressiva. Eu, por exemplo, sofri assalto, levei seis, sete, um monte de tiro e Deus permitiu que eu não morresse".

Veja mais em http://gloriafperez.blogspot.com

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